terça-feira, 13 de setembro de 2016

Apostila CSB: Organistas

Apostila CSB (IV)
ORGANISTAS
CONCEITOS BÁSICOS
A função do organista (ou instrumentista sacro em geral) é uma extensão da do cantor. Reproduzimos aqui o texto do Motu Proprio do Papa S. Pio X, Tra le solicitudine (de 22.11.1903), no que se refere a essa função e complementamos com algumas sugestões práticas. Eis o texto:
VI. Órgão e instrumentos
15. Ainda que a música própria da Igreja seja a vocal, todavia são permitidas também composições acompanhadas a órgão. Nalgum caso particular, nos devidos termos e com as convenientes precauções, poderão também admitir-se outros instrumentos; nunca, porém, sem licença do Ordinário, segundo a prescrição do Caeremoliale Episcoporum.
Comentário: Conforme definição do Santo Padre, o canto gregoriano é o canto oficial da Igreja. Como se sabe, o gregoriano, ou cantus planus, não se admite uma harmonização de vozes, é aceitável, apenas, um acompanhamento com os bordões (oitavas) e terças e quintas. Sempre com registros graves (flautas de 32' e 16'). Por aí se vê o porquê da proibição de instrumentos de percussão como o piano, címbalos, pratos, harpa, xilofone, cravo, etc. Para as autorizações do Ordinário: flautas, trompete, tuba, etc.
16. Como o canto deve prevalecer, assim é que o órgão ou instrumentos devem somente sustentá-lo e nunca sufocá-lo.
Comentário: O órgão deve servir para a sustentação da melodia e do andamento, não permitindo que desafine nem que ralente ou corra demais. O organista nunca deve se propor ao exibicionismo puro e simples.
17. Não é permitido prefaciar o canto como longos prelúdios ou interrompe-lo com intermezzos.
Comentário: Vale o mesmo do n. 16.
18. O órgão, no acompanhamento do canto, nos prelúdios, interlúdios, etc. não só deve adaptar-se à sua própria natureza, mas também deve participar de todas as qualidades da verdadeira Música Sacra, que precedentemente estabelecemos.
Comentário: As qualidades que fala S. Pio X são: santidade e bondade das formas (deve ser realmente religioso); universalidade (tendo como supremo modelo o canto gregoriano); universal (que um fiel de outra nação, cidade, paróquia, não tenha uma impressão não boa ao ouvi-lo. Sua impressão deve ser a mesma em todos os lugares: a edificação dos fiéis por meio da arte dos sons); e, por fim, deve ser verdadeira arte (aqui não cabem experimentalismos modernosos, dissonantes, atonalidades e outras tendências próprias da música profana, e por isso, não própria para o recinto sagrado).
20. É rigorosamente proibido às chamadas bandas musicais tocarem na igreja; e só nalgum caso especial, dado consentimento do Ordinário, será permitido admitir uma escolha limitada, judiciosa e proporcionada ao ambiente, de instrumentos de sopro, contanto que a composição e o acompanhamento a executar-se sejam escritos em estilo grave, conveniente e em tudo semelhante ao que é próprio do órgão.
Comentário: Essas são as regras práticas quanto ao n.15. Era comum em algumas paróquias a execução do hino nacional após a Consagração, no dia do padroeiro. A orientação do Motu Proprio é quanto a essas práticas.
21. Nas procissões fora da igreja pode permitir o Ordinário a banda musical, contanto que não execute trechos profanos. Seria para desejar, em tais ocasiões, que a banda musical se restringisse a acompanhar a algum cântico espiritual, em latim ou vernáculo, executado pelos cantores ou irmandades que tomam parte da procissão.
Comentário: Vale o mesmo acima. É claro que como a procissão sendo atos extra-litúrgicos são feitas algumas concessões. Existem bons arranjos para cânticos populares comuns nas procissões, como: Coração santo; Honra e glória; Queremos Deus; Viva a Mãe de Deus e nossa. Temos no nosso acervo uma edição da Harpa de Sião que traz alguns arranjos para banda de música de alguns hinos, escritos pelo P. João Baptista Lehman. É bom lembrar que as procissão de Corpus Christi, Ramos, das Velas, da Ressurreição são litúrgicas, e por isso, não são feitas as concessões acima.
ORIENTAÇÕES PRÁTICAS AOS ORGANISTAS
Para o organista exercer o seu munus é necessário que esteja imbuído daquilo que a Igreja quer ao admitir a arte dos sons no seu ofício litúrgico: a santificação e edificação dos fiéis.
O organista deve ser católico praticante e conhecedor dos princípios doutrinais e litúrgicos da Santa Igreja.
Em primeiro lugar é necessário conhecer bem o ciclo litúrgico da Igreja para que assim possa compor o programa a ser executado dentro daquele espírito definido pela Igreja. Por exemplo, no Advento, na Quaresma e no tempo da Paixão não é permitido o uso do órgão, é tempo de penitência e reflexão; admite-se, apenas, para acompanhar o canto, sem prelúdio, interlúdio e postlúdio, assim mesmo deve-se utilizar os registros graves e, de preferência, tons menores. Nos outros períodos, ou festas litúrgicas onde impera a alegria, a glória de Deus Nosso Senhor, o organista deve tocar sempre, de preferência interligando as músicas, quando em tons distintos, com modulações, para não precisar parar. É claro que para isso é necessário um bom conhecimento dessa técnica. (...)
De posse do conhecimento dos quesitos acima componha-se o programa. Depois de montar o programa para a Missa deve o organista tocar uma peça antes de iniciar a função litúrgica, para ajudar os fiéis na composição do ambiente. Não deve ser muito forte para não atrapalhar os fiéis na oração, deve, pelo contrário, cooperar. A música na igreja não é para distrair ninguém.
Seguem as regras práticas para a composição do programa:
MISSA REZADA
Entrada: Hino pequeno, de preferência que já dê aos fiéis a idéia da lição da Missa do dia. Deve cobrir desde a entrada do celebrante até a oração ao pé do altar. Tal indicação serve para possibilitar os fiéis a responderem as orações da Missa.
Subida ao altar: tocar suavemente até o final do Glória. Na Oração não se toca. É bom o povo responder ao Kyrie e o Gloria com o celebrante.
Ofertório: Hino de estrofes, para facilitar a parada. Cantar até o final do Lavabo. Após o Orate Fratres o povo deve responder ao celebrante o Suscipiant Dominus sacrificium (penúltima oração antes de iniciar o Prefácio). Responder às orações iniciais do Prefácio. Se for possível, canta-se o Sanctus da Missa VII ou XI (tempo per anum ou santos); IX (Nossa Senhora), XVII (Quaresma e Advento) ou I (Domingos e festas do Senhor). Pode-se tocar, simplesmente (exceto no Advento e Quaresma, onde o órgão só acompanha o canto).
Consagração: Canta-se um hino eucarístico ou fica em silêncio em Adoração ao Santíssimo Sacramento.
Comunhão: Hino eucarístico. Escolher aqueles que falem da Eucaristia, Hóstia, Sacramento, e não pão, dando idéia do pão material. Claro que os hinos litúrgicos são os mais apropriados: Adoro te devote; Ave verum; Jesu, dulcis memoria; O Salutaris; O esca viatorum, etc.
Final: Um hino de acordo com a Missa do dia, ou com o ciclo litúrgico: Natal, Pentecostes, etc.
MISSA CANTADA
Introito: É o hino de entrada. É parte móvel da Missa cantada pelo coro, assim como o Gradual, o Aleluia, o Tracto, Ofertório e a Communio. Começa a cantar assim que a procissão entra na igreja. É um trecho bíblico do Antigo ou do Novo Testamento que ilustra a lição da Missa do dia, o versículo do salmo é um complemento da mesma idéia do texto anterior, mostrando assim a consonância dos ensinamentos da Igreja. De preferência, deve ser cantado em gregoriano, com um ou dois chantres entoando até o asterisco (*), e o coro seguindo. A primeira parte do versículo e do Gloria Patri também são cantadas pelos chantres. Não havendo condições pode-se cantar em falso bordão, que são melodias cantadas em recto tono com uma modulação no final dos trechos, assim como nos tons dos salmos. (...)
Kyrie, Gloria, Sanctus e Agnus Dei: Cantar, de preferência, de acordo com o Kyriale, a saber: No tempo comum ou per anum (depois do Domingo da Santíssima Trindade até o último Domingo depois de Pentecostes) canta-se a Missa XI (Orbis factor), a IV (Cunctipotens Genitor Deus), ou a VIII (de Angelis); nas festas de Nossa Senhora, ou também aos sábados, a Missa IX (Cum jubilo); nas dias do Senhor, a Missa I (Lux et origo), a II (Kyrie fons bonitatis), ou também a III (Kyrie Deus sempiterne); no AdventoQuaresma e na Paixão, a Missa XVII (Deus Genitor Alme). O Kyrie e o Gloria podem ser intercalar como o povo como organista colocando uma registração mais "aberta" quando o povo estiver cantando para "segurar" mais o andamento. O Sanctus e o Agnus Dei não se intercala. Pode-se também executar alguma missa polifônica, devendo, no entanto, observar bem a composição para saber se esta tem as características pedidas pela Santa Igreja (ver inciso 18 e nota do Motu de S. Pio X, acima).
Gradual e Aleluia (ou o Tracto, durante o Advento, Quaresma e Paixão): seguem as mesmas sugestões do Introito.
Antes do sermão: costuma-se cantar uma Ave Maria antes do pregador iniciar o sermão para cobrir o tempo que vai desde o final do canto do Evangelho, a benção do celebrante e a preparação pregador para iniciar o sermão. Não é obrigatório. Pode-se preencher esse espaço com uma peça para órgão.
Credo: O Kyriale indica quatro melodias, a mais comum é a III. Costuma-se intercalar como o povo.
Ofertório: Para a antífona segue as mesmas sugestões do Introito. Enquanto o celebrante incensa o altar, faz o Lavabo o coro pode cantar alguma peça, não muito extensa. Deve acabar antes do Orate fratres. O organista continua a tocar suavemente até o final da secreta (vigiar quando o acólito abre o Missal na parte do canto do prefácio).
Consagração: Permanecer em silêncio, apenas o órgão executa uma peça suave terminada a Consagração. Se a Missa executada for polifônica é necessário cantar o Benedictus, pois normalmente o Sanctus é longo.
Pater Noster até Agnus Dei: Após a pequena elevação (quando toca a campainha) o coro fica de pé, a postos para as orações de preparação para a Comunhão, primeiramente o celebrante entoa o Pater Noster, o coro conclui: Sed libera nos a malo. Feita a fração da Hóstia o coro responde ao Pax Domini sit...Et cum Spiritu tuo. Imediatamente inicia o Agnus Dei.
Comunhão: Canta-se motetos ou hinos litúrgicos ao Santíssimo Sacramento. Antes de terminar a distribuição da Comunhão o coro entoa a antífona própria do dia seguida do salmo indicado no antifonário, pode-se também cantar sempre os salmos 22 ou o 133 num tom apropriado.
Final: Ao final da cerimônia canta-se um moteto ou algum outro hino apropriado para a ocasião.
* Nota 1É oportuno lembrar que na Missa cantada não se canta em vernáculo. Fazendo-se apenas uma exceção durante a Comunhão.
* Nota 2: Sendo possível, faça-se o povo acompanhar os trechos da Missa que competem ao povo, ali representado pelo coral, mas nada impede que aquele também participe ativamente.


Extraído do antigo site do Coral São Boaventura (de Campos-RJ).

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