sábado, 10 de setembro de 2016

Apostila CSB: Aos Cantores

Apostila CSB (II)
AOS CANTORES
l - HISTÓRIA E DIGNIDADE DO CANTO LITÚRGICO
Desde o IV século a execução do canto litúrgico estava reservada aos clérigos, e para instruí-los formavam-se escolas de canto - as Schola Cantorum. A mais célebre foi a que o Papa Gregório I reorganizou em Roma, mas também fora de Roma existiam escolas florescentes. Carlos Magno tornou-se seu zeloso propagador e protetor.
Nos dias de hoje é tolerado o canto litúrgico pelos leigos, mas estes devem ter vida religiosa ativa e sólidos princípios morais.
As Schola Cantorum são hoje simplesmente conhecidas por coro. Este nome serve para designar o grupo que canta na igreja, bem como, o local onde o canto litúrgico é executado. Sua primitiva localização era por detrás do altar-mor ou nos lados do presbitério. Em alguns conventos o coro canta num alpendre ou tribuna situado por cima da entrada do templo - é esta a forma mais usada no Brasil.
2 - NECESSIDADE DE BOA FORMAÇÃO
"A Música Sacra, como parte integrante da solene Liturgia, tem papel comum com ela no seu fim geral que é a glória de Deus e a salvação e edificação dos fiéis"(Motu Proprio Tra le solecitudine, de 22.11.1904, sobre Música Sacra - S. Pio X). Com essas sábias palavras o Santo Padre define a finalidade da música na Liturgia, e continua: "A Música Sacra concorre para aumentar o decoro e esplendor das cerimônias eclesiásticas, e como seu principal papel é revestir de apropriada melodia o texto litúrgico, que se propõe à inteligência dos fiéis, assim é que o seu fim próprio consiste em acrescentar maior eficácia ao mesmo texto, para que os fiéis por este meio, sejam mais facilmente excitados à devoção e melhor se disponham a receber os frutos da graça que são próprios da celebração dos sacrossantos mistérios" (idem). Daí se vê a necessidade de uma boa formação e aprimoramento por parte daqueles que fazem parte de um coro paroquial.
3 - CANTO CORAL LITÚRGICO
A prática do canto coral litúrgico difere, em alguns aspectos, da prática coral convencional - profana - onde a finalidade é meramente artística - embora a Música Sacra também deva ser verdadeira arte como se verá em seguida.
Santo Ambrósio coloca a modéstia como primeira regra para o canto, mostrando desta forma aos cantores que devem estar cientes do seu "múnus"; nunca se esquecer que sua voz é um dom de Deus e por isso deve desenvolver esse dom, mas não se esquecendo que o que deve impulsioná-lo é a piedade e o amor de Deus.
A Música Sacra deve ser santa em sua melodia e também no modo como a executam os cantores, devendo estes excluir todas as características nocivas da música profana, principalmente o sentimentalismo, seja ele romântico ou marcial, a vanglória dos solos, voz com vibratto excessivo ou "arredondando" os intervalos de uma nota a outra, interpretando à maneira de seresta.
A música boa para a igreja deve ter características universais, devendo os dirigentes e cantores ficarem atentos quanto às melodias folclóricas às vezes adaptadas ao texto sacro. A melodia sacra pode até manter o estilo de um país, mas deve sempre manter a identidade com o canto gregoriano que é o oficial da Santa Igreja Católica e, por isso, universal. Também, em relação às letras não litúrgicas deve-se observar se não são poesias pobres ou de gosto duvidoso.
Enfim, a Música Sacra deve ser verdadeira arte e deve exercer sobre aqueles que a executam exatamente aquilo que a Igreja quer: a edificação dos fiéis e a salvação de suas almas.
4 - PRÁTICAS DE CANTO CORAL
O coro paroquial deve se exercitar bastante para executar bem as músicas polifônicas, como também as gregorianas. Os ensaios devem ser frequentes e procurando-se um mínimo (e sempre mais) de instrução para executar com dignidade e fidelidade as composições. Às vezes e preferível executar bem uma composição simples que, mal, uma bela, pois assim não alcançará aquilo que a Igreja quer, e, pior, escandalizará os fiéis.
Nunca é demais lembrar que o cantor não deve visar a vanglória. São Bernardo ensina: "Há alguns que são vaidosos de sua voz e desprezam os outros; cantam mais para agradar ao povo do que a Deus. Se cantares para receber elogios dos outros, venderás a tua voz". Por isso, mesmo que se procure aperfeiçoar a qualidade da voz, a humildade e a glória de Deus ficam em primeiro lugar.
4.1 - COMO SE PRODUZ O SOM?
Para se produzir um som são necessários três elementos:
1.      VIBRADOR - as cordas vocais;
2.      FONTE DE FORÇA - a respiração, e
3.      RESSONADORES - boca, língua, nariz, músculos e ossos da face.
4.2 - PREPARANDO O SOM - AQUECIMENTO DO CORPO
Antes de começar a cantar o cantor deve estar com a musculatura do pescoço e dos membros superiores completamente relaxada. Começando-se pelo pescoço deve-se fazer assim:
  • massageá-los com as pontas dos dedos;
  •  pender a cabeça para a frente, levemente;
  • levar a cabeça para a direita e para trás (aqui deve-se abrir bem a boca e "soltar"os maxilares);
  • continuar para a esquerda até o ponto inicial e repetir o exercício algumas vezes, depois inverter começando pela esquerda.

Passa-se para o aquecimento dos membros superiores:
  •  esticar os braços para o alto como se fosse tocar o teto;
  • fazer movimentos circulares com os ombros.

Também para a língua, rosto e maxilares são necessários exercícios de aquecimento. Faz-se assim:
  • massagear com os dedos a junção dos maxilares (perto da orelha);
  • massagear o queixo e os lábios superiores com a ponta dos dedos (como se estivesse escovando os dentes por fora);
  • abrir a boca horizontal e verticalmente;
  • imitar o telefone (trrrr...);
  • articular dugudugu... (sem som);
  • abrir a boca lentamente. Observar para que a língua acompanhe o movimento das mandíbulas sem enrolar ou levantar, mantendo-a relaxada;
  • continuar exercitando os maxilares com vocalizes sobre paiáiá..., môiôiô..., pápápá.
4.3 - RESPIRAÇÃO
Depois de aquecer totalmente o corpo deve-se partir para a preparação da respiração. É bom lembrar que a postura adequada para o canto é aquela em que o corpo fica a 900 em relação ao solo, sem tensões. Não se deve ficar com o queixo erguido, tórax para frente e ombros caídos.
Para preparar a respiração deve-se fazer o seguinte:
  • inspirar por uma narina e expirar pela outra, lentamente, e vice-versa;
  • imaginar o cheiro agradável de uma flor, por exemplo, inspirando naturalmente, sem ruído. Deve-se deixar o ar entrar naturalmente. Outra observação: procurar inspirar sempre pelo nariz;
  •  inspirar e em seguida expirar como se estivesse apagando uma vela (ponta do dedo);
  • inspirar e depois expirar pausadamente, colocando a palma da mão a mais ou menos dez centímetros da boca. Se o ar sair quente é porque o cantor está desperdiçando ar demais;
  • colocar a palma da mão sobre o abdômen e inspirar, sentindo que o ar "empurra" a mão para fora. O ar deve tomar todo o abdômen, expandindo-se para os lados e pressionando as costelas. Ao fazer esse exercício o cantor deve observar que nunca deve levantar o peito e os ombros ao inspirar;
  • depois de ter inspirado da forma acima, o coralista continua o exercício "segurando" o ar por alguns segundos, contando de 1 a 10, pausadamente, e expira aos poucos, emitindo um leve som de ssss..., entrecortado; depois repetir o exercício mudando o som para ffff...;
  • entre um exercício e outro deve o cantor relaxar os braços soltando todo o ar contido no diafragma;
  • inspirar contando de 1 a 10 tempos e expirar em 1 tempo com som de sss...;
  • inverter inspirando em 1 tempo e expirando em 10..., 20..., 25...., também com som de sss...
4.4 - O SOM
O ar, ao fazer vibrar as cordas vocais, produz um som pequeno que necessita de uma caixa de ressonância para ampliar-se. São três os principais ressonadores: cabeça, laringe e peito, responsáveis pela ressonância dos sons agudos, médios e graves, respectivamente.
Para deixar a voz preparada para o canto deve-se fazer o seguinte:


  • partindo de uma nota cômoda (sol, p.ex.), deslocar-se pausada e vagarosamente para as notas graves. Usar a sílaba nonnon... sentindo a ressonância. Depois mudar para bumbum..., dingding..., iáiá...;
  • descer meio tom e repetir as mesmas sílabas;
  • continuar descendo até a nota mais grave que o grupo alcançar;
  • aumentar o andamento e utilizando as mesmas sílabas anteriores, subindo de meio em meio tom e alcançar a nota mais aguda.
*OBSERVAÇÃO: Pode o regente fazer os exercícios acima utilizando qualquer melodia de fácil assimilação pelo coro.
4.4.1 - AS VOGAIS
As vogais podem ser abertas ou fechadas, claras ou escuras. É preciso equilibrá-las:
  • para o "ataque" das vogais deve o cantor abrir a boca antes de emitir o som, como se fosse bocejar: a, é, ê, i, ó, ô, u;
  • articular as vogais sem emitir som, apenas sussurrando;
  • um bom exercício para ver se a articulação das vogais está sendo clara é fazendo duplas e, a uma certa distância, um tentar descobrir a vogal que o outro está sussurrando.
4.4.2 - AS CONSOANTES
A formação das consoantes requer participação da língua e/ou dentes e/ou lábios, e há as que são formadas na garganta. Para cada caso o coralista deve articulá-las de uma maneira.
As consoantes m, n e l devem ser dobradas para se tornarem perceptíveis. Já o j, ss, ch, x (/s/, /ks/, /x/) devem ser atenuadas, isto é, articulá-las leve e agilmente.
Para "despertar" a musculatura próxima da boca deve-se treinar assim:
  • começando numa nota cômoda fazer escala ou 1a, 3a, 5a e 7a com a sílaba mu-a-mu-a...(exagerar bastante na articulação);
  • continuar em outros tons, ascendendo ou descendendo de meio em meio (dependendo de como o grupo esteja aquecido) e outras sílabas.
5 - QUALIDADES PARA O CORO
O coro não será melhor ou pior pela quantidade de seus membros. nem pela execução de harmonizações para 3, 4 ou até 5 vozes. Nem ainda pelo volume em que cantam seus integrantes. O coro será bom quando seus integrantes colocar em prática certos detalhes que, em princípio, podem parecer complexos mas que, com o tempo, tornar-se-ão naturais.
Tudo que foi visto nos tópicos anteriores serve para fazer com que o coro tenha um canto limpo, ágil e de boa extensão de voz, com um timbre único, uma boa projeção de voz e expressão clara.
5.1 - LIMPEZA
Deve o coralista se preparar para o "ataque" das notas musicais, com grande abertura interior da boca, como se estivesse bocejando e cantar sempre à meia voz ou piano, sem forçar. Os lábios devem estar para frente, os dentes separados e o queixo relaxado. (v. 4.2)
5.2 - AGILIDADE E EXTENSÃO
O cantor deve cantar levemente, pronunciando todas as vogais (v. 4.4.1). Os exercícios para dar agilidade e extensão à voz devem ser baseados em vocalizes trabalhadas nas oitavas, para aumentar a extensão de voz, rapidez e limpidez ao som (v. 4.4).
5.3 - TIMBRE
É importante cuidar do timbre do coro. Deve-se buscar uma igualdade de som. Esse trabalho o regente pode desenvolver explorando os uníssonos para a partir daí encontrar o timbre ideal para o coro e aperfeiçoá-lo.
5.4 - PROJEÇÃO
Para uma perfeita compreensão do que se canta deve o cantor projetar sua voz para um ponto o mais distante possível (o altar, p. ex.). O cantor não deve se limitar à partitura e ao local onde se canta.
5.5 - EXPRESSÃO
Principalmente no canto sacro é necessária muita expressividade quando se canta, já que é uma oração musicada. Por isso o coralista deve ser bom católico para que, desta forma, possa ele, em primeiro lugar, compreender e professar o que está cantando e assim transmitir com clareza aos fiéis aquilo que a Igreja propõe nas Suas preces cantadas.
** FONTES:
- Dicionário Litúrgico - Frei Basílio Röwer, OFM. (Ed. Vozes - 3a edição - l946)
- Técnica Vocal Aplicada ao Canto Coral. Profa Yara Campos (l982)
- Cinco Lições Práticas de Canto. James C. McKinney



Extraído do antigo site do Coral São Boaventura (de Campos-RJ).

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